O Brasil ficou órfão de um dos maiores gênios do humor brasileiro, que em 65 anos de carreira, criou mais de 200 personagens e se consagrou no rádio, na TV, no teatro e até mesmo no cinema. Depois de enfrentar diversas internações, o humorista cearense Chico Anysio não resistiu e nos deixou na tarde de sexta-feira (23), às 14h52, após uma parada cardiorrespiratória, causada por uma falência múltipla dos órgãos.
Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, de 80 anos, trabalhou como dublador, escritor, compositor e pintor, mas foi atuando em quadros humorísticos que conquistou fãs nos quatro cantos do país. Criou e deu vida a diversos personagens, que mostravam a realidade do povo brasileiro, e por isso, o público se identificou com esse excepcional artista, que iniciou sua carreira no rádio. Foi comentarista esportivo e já década de 50, criou alguns personagens, que mais tarde ficariam eternizados, como é o caso do Professor Raimundo, que estreou no rádio e virou febre na TV, anos mais tarde.
Há meses, os fãs de Chico Anysio acompanhavam sua luta pela vida, que teve inicio ainda em 2009, quando foi internado devido a uma pneumonia. Foi tratado, recebeu alta e em agosto do ano seguinte, retornou ao hospital, onde teve parte do intestino grosso retirado. No final de 2010, teve uma falta de ar e foi internado novamente, e permaneceu até março de 2011. Em todo esse tempo, passou por um momento difícil, onde respirava com a ajuda de aparelhos e se comunicava através de mimicas. Deixou o hospital em março de 2011, voltando a ser internado em novembro. Teve alta, mas pouco tempo depois voltou ao hospital. Ficou 22 dias internado e recebeu alta novamente, mas, no dia seguinte estava de novo no Hospital Samaritano, onde permaneceu até seu falecimento, na tarde de sexta-feira.
Durante todo o tempo, a viúva, Malga Di Paula, acompanhou a trajetória de Chico e diariamente informava seus fãs através das redes sociais, e recebia apoio de todos os admiradores desse grande mestre do humor, que não apenas alegrou o púbico, como também lançou grandes nomes do atual humor brasileiro.
A morte de Chico Anysio deixou admiradores e amigos entristecidos. O apresentador e amigo, Jô Soares, disse que “o Brasil inteiro estava pendurado nessa agonia” e disse ainda que “ele não merecia isso”. Já o cartunista Ziraldo, fez uma comparação que “nunca mais teremos Pelé e nem Chico Anysio”. Emocionado, Renato Aragão se lembrou de quando chegou ao Rio de Janeiro e ressaltou que Chico Anysio foi uma referência aos humoristas: “Não vai ter outro Chico Anysio, não. Ele fazia sátira do Brasil todo. Ele foi muito amigo. Chico Anysio ajudava todo mundo. O coração dele não cabia dentro do peito”, completou.
O corpo de Chico Anysio está sendo velado no Theatro Municipal, no Centro do Rio de Janeiro. No inicio do dia, o velório foi aberto apenas aos familiares e amigos. Os filhos – entre eles Bruno Mazzeo – e as ex-esposas de Chico foram os primeiros a chegar. As atrizes Marília Pêra, Glória Pires, entre outras, e os atores Hélio de La Peña, Marcius Melhem, Leandro Hassum e Tom Cavalcanti, também estiveram presentes. Alcione Mazzeo, mãe de Bruno, estava emocionada ao dizer: “O país fica mais pobre, o humor e a gente. A lembrança que ele deixa é ter lutado pela vida e ter dado alegria a todo mundo. Ele foi um dos melhores atores do país e o maior humorista do mundo. Não tem uma pessoa que tenha feito tantos personagens como ele”.
No inicio da tarde de domingo (25), o corpo de Chico Anysio será cremado no Cemitério Caju, na Zona Portuária do Rio. Metade de suas cinzas serão levadas para sua cidade natal, e a outra metade ao Projac (Projeto Jacarepaguá), o centro de produções da Rede Globo, onde Chico Anysio trabalhou durante anos. Chico Anysio deixou a atual esposa, Malga, além de oito filhos e dez netos.

Vida
Chico Anysio nasceu no dia 12 de abril de 1931 e com apenas seis anos se mudou com a família para o Rio de Janeiro. Ainda jovem, fez um teste para locutor de rádio e ficou em segundo lugar, atrás apenas de Silvio Santos. Mais tarde, trabalhou na Rádio Guanabara e pouco tempo depois passou a escrever diálogos para as chanchadas, comum no Brasil entre as décadas de 30 e 60. Sua primeira aparição na TV aconteceu em 1957, no programa Noite de Gala, da extinta TV Rio. Dois anos mais tarde deu inicio a um novo trabalho humorístico, que na década de 80 passaria a se chamar Chico Total.
Era torcedor do Palmeiras, porém tinha admiração por outros times brasileiros, como o Vasco da Gama. Desde 1968 esteve na Rede Globo, onde durante anos teve importante papel na programação da emissora carioca. Durante oito anos participou do Chico Anysio Show e em 1990, levou para a TV o programa Escolinha do Professor Raimundo, que no inicio era apenas um quadro, mas o sucesso foi tanto, que não demorou a se tornar um programa exclusivo, que esteve no ar até 2002. Além dos programas humorístico, Chico Anysio participou de novelas pela Globo, entre elas Sinhá Moça (2006), Pé na Jaca (2007) e Caminho das Índias (2009). No cinema, participou do sucesso Se Eu Fosse Você 2 e de Uma Professora Muito Maluquinha, que estreou em outubro do último ano. Além de todos esses programas, Chico também participou do humorístico semanal Zorra Total, interpretando diversos de seus personagens.
Chico Anysio se casou com a atriz Nancy Wanderley, com a vedete Rose Rondelli, com Regina Chaves, com a atriz Alcione Mazzeo e também com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. Ao todo teve oito filhos, sendo um deles adotado e deixará saudade para todos os familiares.
Mas o humor brasileiro também irá sentir a falta de um dos seus maiores mestres e suas personagens, como também seus bordões, ficarão eternos no coração dos milhões de brasileiros que admiravam o trabalho de Chico Anysio. Seja Alberto Roberto (Eu sou um símbalo sescual.), Bento Carneiro (Bento Carneiro, vampiro brasileiro… pzztt!), Salomé (Eu faço a cabeça do João Batista ou não me chamo Salomé), e claro, o Professor Raimundo (E o salário, ó!). Morreu Chico Anysio, mas suas personagens continuarão eternas.

“Não tenho medo de morrer, tenho pena de morrer, porque morrendo não vou ver meus netos crescendo”. – Chico Anysio, em uma entrevista ao Fantástico (Rede Globo) em agosto de 2011.

Chico Anysio - 12/04/1931 - 24/03/2012