Viva para Contar, Lisa Gardner, 1ª edição, Ribeirão Preto-SP: Novo Conceito, 2012, 480 páginas

Autora Best-Seller do The New York Times, Lisa Gardner vive na região da Nova Inglaterra e já escreveu doze romances. Em uma de suas séries mais famosas, a autora dá vida a uma detetive linha dura, muito competente e cativante.
Viva para Contar, quarto livro da série, mostra a aventura mais eletrizante da detetive D. D. Warren, e ainda envolve um tema poucas vezes usado na literatura: o distúrbio mental em crianças. Contado sob o ponto de vista de três personagens, encontramos uma escrita envolvente e em ritmo acelerado do início ao fim.
D. D. Warren é uma detetive experiente que atua na cidade de Boston e é chamada para desvendar a misteriosa morte de quatro membros de uma família de classe média. Danielle Burton passou por uma experiência semelhante quando era jovem e viu toda sua família ser brutalmente assassinada; agora, 25 anos mais tarde, ao mesmo tempo em que trabalha na ala psiquiátrica de um hospital, percebe que tudo está acontecendo novamente. Victoria Oliver é uma mulher que se dedica inteiramente a cuidar do filho, que sofre problemas mentais, mas ela também tem seus sentimentos e receios, o que a torna uma personagem extremamente real. A história das três mulheres irão se cruzar e aos poucos, todo o mistério se desenvolverá, por mais surpreendente que possa ser.

“Prometemos desistir de tudo. Até mesmo das nossas vidas. Desistiríamos de cada parte de nós. Faríamos tudo que fosse preciso, perderíamos qualquer coisa que tivéssemos que perder. Tudo para que nosso filho sobrevivesse. (pág. 68)”.

O livro é narrado pelas três personagens principais, que aos poucos contam sobre suas próprias histórias no presente e também revelam o passado. O livro, que já começa em grande estilo, apenas melhora com o passar das páginas. Os assassinatos acontecem e isso aumenta o mistério por trás de tudo o que envolve Viva para Contar.
A investigação inicia ainda nos primeiros capítulos, e aos poucos a autora e suas personagens mostram ao leitor pontos que podem ser fundamentais para o desenvolvimento da história - vale ressaltar que desconfiei do que de fato acontece bem antes disso ser revelado, mas, por algum motivo, pensei estar enganado. Graças a participação da detetive D. D., as partes em que sua história é narrada se tornam mais cativantes, principalmente para aqueles que gostam de se envolver com a investigação na literatura. D. D. é ainda uma personagem que conquista por suas atitudes, por sua personalidade bem definida e pela forma como conduz uma investigação tão intrigante, não deixando de lado o humor característicos de investigadores.
Sob o ponto de vista de Danielle e Victoria, o livro é narrado em 1ª pessoa e nem por isso deixa de ser uma leitura agradável. Não só continua em ritmo acelerado como também possuem as partes mais tensas, o que pode não ser visto com bons olhos pelas pessoas fracas – ainda que esteja longe de ser um lado negativo para o livro. Isso porque são narradas cenas pesadas com crianças que sofrem determinados problemas mentais, logo, percebemos o que certos distúrbios podem causar com seres muitas vezes frágeis como as crianças.

“Nada de abraços, nada de carinhos pela manhã, nada de beijos no rosto. Ela não tinha um cachorro que pudesse levar para passear ou um gato para acariciar. Ela não tinha nem mesmo uma planta com a qual pudesse relaxar, admirando as folhas verdes. (pág. 284)”.

Todas as pessoas que sofrem algum tipo de distúrbio possuem traços de personalidade que devem ser bem explorados quando são retratados em histórias como em Viva para Contar. Felizmente a autora pesquisou com maestria e assim colocou nas páginas de seu livro personagens reais. Tudo isso se deve a um trabalho realizado pela própria autora, que contou com a ajuda de outras pessoas e de uma família que enfrentou os problemas comuns com pessoas que sofrem, como é dito no Posfácio e Agradecimentos.
É necessário estar passando por um bom momento para ler este livro, ainda que não passe de uma ficção. Não deixa de ser um livro forte, angustiante na maioria de suas páginas, e que mostra um lado infantil diferente do que estamos acostumados a ver na literatura e, sobretudo na realidade. Ainda encontramos um casamento da realidade com assuntos místicos, que apenas complementa uma história perfeita.
Viva para Contar é o tipo de livro que prende o leitor até mesmo quando este não está lendo; a história conquista desde os primeiros capítulos; perturba - no bom sentido - quando já deveria estar sendo esquecida; nos deixa angustiado em momentos pós-leitura; ficamos presos aos personagens durante dias e mais dias; sentimos a necessidade de entrar na história, para assim ter alguma atitude que possa ajudar, mesmo sabendo que isso pode ser impossível.
Leia ao livro e viva para contar a emoção única de acompanhar uma história de D. D. Warren. Uma personagem fantástica em todos os momentos em que aparece. Os demais livros da autora, e da série Detective D. D. Warren devem ser no mesmo estilo, e quando vierem a ser lançados, provavelmente pela editora Novo Conceito, não há dúvida de que será outra história inesquecível. Lisa Gardner entra para os favoritos.

“Não quero viver assim. Não quero ser esta pessoa. Não quero este tipo de vida. Preciso de uma nova maneira de viver, uma nova atitude. Preciso agir, mesmo que isso me mate. Deus sabe que já estou morrendo por dentro. (pág. 370)”.