O Sonho de Eva, Chico Anes, 1ª Edição, Ribeirão Preto-SP: Novo Conceito, 2012, 304 páginas

Membro-fundador da República dos Escritores, o mineiro Chico Anes é formado em engenharia eletrônica e telecomunicações, e pós-graduado em marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Publicou o livro Pirapato – O Menino sem Alma (Skoob) e organizou diversas antologias, como Tratado Secreto de Magia Vol. 2 (Resenha). Mais recentemente, lançou pelo selo Jovem da editora Novo Conceito, o livro O Sonho de Eva.
Nessa obra, Chico narra a história da Dra. Eva Abelar, uma das principais especialistas em sonhos lúcidos e que está em Viena apresentando seu trabalho. Durante essa viagem, Eva é informada sobre o desaparecimento de seu filho, Joachim, uma criança autista, e também de que sua irmã, Anna, pulou do 20º andar de um prédio em São Paulo. Eva então volta para o Brasil, em busca da verdade sobre esses dois acontecimentos.
Já no Brasil, a protagonista recebe uma proposta para substituir Anna em um projeto revolucionário da Yume - importante empresa que trabalha com entretenimento. Nesse projeto, a Yume pretende desenvolver o DreamGame, um jogo em que a pessoa poderia jogar enquanto estivesse dormindo. Ao mesmo tempo em que trabalha no projeto, Eva conta com a ajuda de Alec, com quem teve um romance no passado, para descobrir o paradeiro de Joachim e solucionar todo o mistério.

“Nossas línguas se misturam. O sabor da fruta desce pelos meus órgãos, penetrando-os, embebendo-os e,tal a víbora dissera, transforma-se na eletricidade de milhares de relâmpagos, rasgando meu corpo em muitos.” (pág. 52).

Até que ponto a tecnologia está presente em sua vida? Em O Sonho de Eva percebemos que é algo que se tornou inevitável e inclusive algo tão humano, como os sonhos, se tornam vulneráveis quando tratamos dela. A tecnologia está presente no nosso dia-a-dia e podem fazer mudanças, tirar liberdade e privacidade, causar perigos que podem ser fatais. Tanto que, neste caso, até dormir pode se tornar um jogo perigoso.
Amada por uns e odiada por outros, a capa desenvolvida por Igor Campos é ainda mais rica em detalhes do que se pode imaginar com uma simples imagem. No interior, a história é contada em terceira pessoa – com exceção da narração dos sonhos - e dividida em 28 capítulos, sendo que estes são divididos por partes, o que aumenta o ritmo da história.
Como grande admirador de Dan Brown, não foi difícil encontrar semelhanças entre O Sonho de Eva e as obras do excepcional autor norte-americano – não que tenha servido de inspiração ao autor. Não apenas no estilo de narrativa, como também no gênero por trás da história de Eva Abelar – que entre outras coisas, possui a conspiração. O grande diferencial é que Chico Anes trata de um tema pouco trabalhado na literatura: os sonhos lúcidos.
Sonhos lúcidos, como o próprio nome já sugere, é o ato de sonhar sabendo que tudo aquilo não passa de um sonho e controlar o que se passa durante os vários ciclos de nossos sonhos, sendo possível também vivenciar aquilo que está apenas em nossa mente. É algo que demorou a ser comprovado cientificamente, mas que é usado há séculos, existindo inclusive técnicas para ajudar em seu controle.
Para elaborar a história em O Sonho de Eva, os sonhos lúcidos foram bem pesquisados e se encaixaram perfeitamente em uma história inovadora, que envolve o presente e o passado de duas formas distintas: na sociedade, como um todo; e na personagem principal.
Eva é uma personagem batalhadora, uma mãe guerreira - apesar de tudo - e que se aproxima da realidade, com seus medos, anseios, reflexões etc. Não apenas passa por um momento difícil, como já foi dito, como também tem recordações de um passado que a perturba pelos mais variados motivos e a atinge, mesmo depois de anos. Isso acontece também através dos sonhos, que novamente voltam a ser importantes na obra – sem contar que os interpretando, tudo pode se solucionar.

“Mas, quando sentiu o beijo se aproximando, teve certeza de que era Alec quem gostaria que estivesse ali. Não cometeria o mesmo erro outra vez. Recuperaria seu filho e, se fosse necessário, tentaria não destruir nada além de sua própria vida.” (pág. 153).

O mistério existe desde a primeira página, porém, ao contrário de muitos livros, o vilão de toda a trama não demora a ser revelado. Sabendo quem está por trás de tudo, resta ao leitor acompanhar as aventuras de Eva e torcer para que a protagonista consiga encontrar a verdade, faça vingança por aquilo que aconteceu com ela própria, e ainda assim, sobreviva aos perigos que ela, e personagens secundários, estão correndo.
A ação está presente de uma forma incomum em grande parte dos livros nacionais: em ritmo cinematográfico. Com cenas bem detalhadas – e nem por isso cansativas –, conseguimos imaginar aquilo que está se passando e vivenciar não apenas como leitores. A ação, assim como o mistério e o próprio romance, fazem de O Sonho de Eva uma história excepcional, pois leva o leitor para dentro das páginas do livro. Livro este que poderia render inúmeros parágrafos, mas que quanto mais se fala, mais se revela sobre a história.
Como o autor citado no início, Chico Anes conquista o leitor da primeira à última página, e tem potencial para criar uma história que envolva e prenda quem a lê. Não seria exagero dizer que no futuro, Chico pode estar entre os mais vendidos e se tornar um ícone, já que pelo menos em O Sonho de Eva, criatividade e inovação não faltam. Essa obra também comprova que a ideia principal da República dos Escritores gera bons frutos – e excepcionais livros.

“Desço as escadas repetindo a frase como um mantra, uma ladainha que me empurra degraus abaixo. O coração acelerado e a respiração curta traz sensações desconfortáveis ao peito. Se não me controlar, sinto que posso acordar.
Vinte e um anos e tão virgem quanto um feto!” (pág. 235)