Cruzando o Caminho do Sol, Corban Addison, tradução de Mariângela Vidal Sampaio Fernandes, 1ª edição, Ribeirão Preto-SP: Novo Conceito, 2012, 448 páginas.

Alguns livros merecem a leitura apenas por tratar de temas polêmicos. Este é o caso do livro Cruzando o Caminho do Sol, de Corban Addison. Graduado em Direito e Engenharia, Addison se preocupa com os direitos humanos e reflete isso em seus livros - sendo que o segundo será publicado em breve.
Dividido em quatro partes, Cruzando o Caminho do Sol inicia contando a história das irmãs Ahalya e Sita, duas jovens indianas que levavam uma vida tranquila, até que certo dia perdem tudo o que tinham após um tsunami devastar onde vivem, na costa leste da Índia.  Sozinhas no mundo, as duas irmãs partem sem um destino certo e precisarão encontrar forças para sobreviver as dificuldades impostas pelo submundo.
Longe dali, em Washington D.C., Thomas Clarke está em um momento difícil de sua vida, precisando enfrentar a falta que algumas pessoas fazem. Advogado, Thomas não se sente bem em seu emprego e após presenciar um sequestro, decide mudar radicalmente e parte para Mumbai, onde trabalha para a Aces uma ONG que denuncia e luta contra o tráfico humano. Com isso, a história dessas três pessoas se cruza e um pode ser de extrema importância para o outro.

“Ele só queria sua vida de volta, mas ela não voltaria. Ele queria se libertar das sensações que o assombravam naquela casa. Ele queria sentir o aconchego de um corpo junto ao outro, sentir a unidade do amor transfigurada em paixão”. (pág. 81)”.

Com uma escrita fantástica do início ao fim, o primeiro livro de Corban Addison tem uma história encantadora e uma mensagem que não pode ser deixada de lado: o tráfico humano para a prostituição e a escravidão. Tratando de um tema forte – e também com cenas fortes -, o livro mostra a triste realidade de muitas garotas do mundo inteiro que tem seus destinos selados por pessoas desumanas – não consigo chamá-las de outra forma.
Os personagens não são complexos como encontramos em diversos livros do gênero, mas têm muito que passar aos leitores, que entram em suas histórias com a vontade de fazer a diferença na vida de todas elas. Se fosse possível, não hesitaria em dar vida as personagens e ter uma atitude que pudesse evitar o sofrimento, principalmente de Sita, a mais jovem das garotas que é quem mais sofre ao longo de todo o livro. Em diversos momentos do livro nos pegamos pensando: Porque isso está acontecendo com Sita?. Mas a verdadeira pergunta é: Porque isso acontece no mundo?.
Como admirador da cultura indiana, não poderia deixar de achar fantástico tudo aquilo que Addison proporciona, ensinando muito e fazendo referências ao costume indiano na religião, na culinária e na sociedade em geral. Entendemos, por exemplo, certas formas de tratamento e também sobre deuses dessa cultura fantástica. É apenas um detalhe que engrandece a história, e é capaz de mostrar as diferenças com a cultura ocidental, explorada na vida de Thomas.
Criada por Elisabeth Minaltse, a capa de Cruzando o Caminho do Sol também tem detalhes que chamam a atenção por si só, por isso foi bom que a Novo Conceito tenha mantido a capa original. Em seu interior, o livro possui detalhes na diagramação que chamam a atenção – como na divisória de cada parte ou no início de cada capítulo. Vale lembrar que o início dos capítulos têm pequenas frases de pessoas importantes – que vão de Voltaire à Rigveda -, que dão um aperitivo do que encontraremos nas páginas seguintes.

“Ela tentou rezar, tentou acreditar que o macaco não era apenas um pedaço de cerâmica, que o verdadeiro Hanumam vivia e procurava por ela, mas sua fé não foi capaz de sustentar o peso de seu temor”. (pág. 302)”.

Esse romance é uma ficção e o autor deixa isso claro em sua nota, já no final do livro. Addison cita sobre sua pesquisa e dá números que surpreendem, como que mais de 30 bilhões de dólares é gerado por ano com o tráfico de humanos para o comércio sexual e a escravidão. Ele ainda comenta que a organização Aces é fruto de sua imaginação, porém que existem organizações semelhantes e que fazem a diferença, ou seja, nem tudo está perdido.
Se o livro entrou para os favoritos? Certamente. Esse é um livro que mesmo quando acabamos a leitura, continuamos pensando sobre ele durante dias. Não dá para esconder que é um livro triste, mas ele mostra a realidade de nosso mundo usando muita ação, romance, dor e o melhor: superação. Em mais de 400 páginas, Corban Addison mostra que os problemas estão aí, na frente da sociedade, e cabe a nós fazer a diferença. Não adianta dizer que o tráfico humano/sexual está apenas na Índia e que não podemos fazer nada, porque isso não é verdade. Dificilmente essa realidade irá mudar, mas se ao menos uma garota como Sita e Ahalya tiver sua vida devolvida, isso com certeza será de grande ajuda. Agora basta esperar pelo próximo livro do autor – que também será lançado pela Novo Conceito -, pois com certeza será tão bom quanto este primeiro, pois Addison é uma das apostas da literatura mundial e isso é uma certeza que um dia será concretizada.

“Ela segurou com força a pulseira e começou a solução. Foi como se todo o horror, a dúvida, o desespero e a falta de perspectiva dos últimos dois meses e meio houvessem convergido em uma grande onda de lágrimas”. (pág. 404).

Como disse, Cruzando o Caminho do Sol entrou para os favoritos e dificilmente irei esquecer tudo aquilo que acompanhei nesse livro fantástico. Se você quer um livro que se torne inesquecível, esse é o livro certo. Agradeço a Novo Conceito por proporcionar essa leitura e deixo aqui o convite para participar da promoção que terá início ainda essa semana. Aguardem!